Danny e Michael Philippou conquistaram seu espaço em Hollywood, mas não pretendem deixar a Austrália tão cedo.
A dupla australiana, natural de Adelaide, alcançou reconhecimento internacional com o filme de terror Talk to Me, que arrecadou impressionantes US$ 92 milhões nas bilheteiras mundiais — superando, no mesmo ano, o elogiado Asteroid City, de Wes Anderson, com Tom Hanks e Scarlett Johansson, que somou US$ 54 milhões. O sucesso consolidou os irmãos como nomes promissores no cenário cinematográfico global.
“Tudo parece tão surreal”, revelou Danny à ABC Entertainment. “Quando você está em Hollywood, é tudo uma loucura. Mas, quando volta para a Austrália, parece que nada aconteceu. Parece um sonho.”
Com 32 anos, os gêmeos provaram que seu talento vai além do hype. Talk to Me foi adquirido pela A24 após uma disputa acirrada entre estúdios e tornou-se o segundo maior sucesso de bilheteria da produtora — atrás apenas de Everything Everywhere All At Once, vencedor do Oscar de Melhor Filme.
Com tamanho impacto, a pressão para o próximo projeto era inevitável. Mesmo contando com um orçamento maior para Bring Her Back, os irmãos deixaram claro um ponto: “Queremos fazer tudo na Austrália”.
Do YouTube ao cinema mundial
Antes da fama nas telonas, os Philippou se destacaram com o canal do YouTube RackaRacka, nome inspirado no bairro de origem da dupla, Pooraka. Com vídeos caseiros de ação e terror, conquistaram mais de 1,5 bilhão de visualizações e quase 7 milhões de inscritos na década de 2010.
Mesmo com recursos maiores hoje, os irmãos continuam fiéis aos efeitos práticos que aprenderam durante os anos de YouTube. “Foi o melhor campo de treinamento. Era tudo físico, tudo na prática. A gente aprendia fazendo”, conta Danny.
Michael completa: “Tentamos muitas coisas e fracassamos em várias. Então, quando alguém no set diz ‘Não dá pra fazer isso’, a gente responde: ‘Acho que dá sim’”.
Boa parte da equipe atual acompanha os gêmeos desde antes da fama, agora reforçada por profissionais experientes em som, design e direção. “Eles elevam tudo e trazem uma expertise incrível”, diz Danny. Ainda assim, Michael brinca: “Às vezes gostamos do estilo YouTube, tipo: ‘Tira a câmera do tripé e vamos filmar na mão!’”.
“Bring Her Back”: um novo terror com profundidade emocional
Se Talk to Me foi definido como um terror de festa, Bring Her Back mergulha em um horror corporal guiado por personagens, com cenas marcadas por violência gráfica e atmosfera inquietante.
A trama gira em torno dos meio-irmãos adolescentes Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong), que enfrentam a recente morte do pai. Eles são acolhidos por Laura, interpretada por Sally Hawkins (de A Forma da Água e Paddington), que entrega uma atuação marcante com um convincente sotaque australiano. Laura também cuida de Ollie (Jonah Wren Phillips), um menino não-verbal com comportamentos cada vez mais perturbadores.
Piper, que é deficiente visual, depende do irmão Andy para descrever o mundo ao seu redor de forma idealizada. “Andy é os olhos de Piper, mas ele não permite que ela veja os dois lados da realidade… e isso acaba colocando-a em risco”, explica Michael. “Só quando vemos o bem e o mal do mundo conseguimos nos orientar.”
Essa reflexão sobre luz e sombra surgiu de uma conversa com Cheyenne, irmã de um amigo, hoje com 15 anos e também deficiente visual. Ela inclusive participa da trilha sonora do filme.
“Perguntei a ela como seria, na visão dela, poder enxergar”, lembra Danny. “E ela respondeu: ‘Ainda bem que não vejo, porque assim não preciso olhar para as coisas feias do mundo’.”
Com uma mistura de horror visceral e profundidade emocional, os Philippou continuam firmes na missão de fazer cinema com identidade australiana — e com histórias que desafiam tanto o público quanto os próprios limites do gênero.