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Fatos e Ficção em ‘Titanic’ e o Retorno dos Desastres Marítimos ao Cinema

O fascínio do cinema por desastres em alto mar é duradouro. Nenhum filme exemplifica isso melhor que “Titanic” (1997), de James Cameron. O longa, estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, tornou-se um fenômeno cultural ao misturar o naufrágio histórico do RMS Titanic em 1912 com um romance trágico. Mas, décadas depois, o que naquele filme era fato e o que era ficção?

‘Titanic’: Separando a Verdade do Roteiro

O impacto do filme foi tão grande que muitos espectadores ainda questionam a veracidade de seus personagens centrais. Para esclarecer: o casal protagonista, Jack Dawson e Rose Dewitt Bukater, é totalmente fictício. Eles foram criados por Cameron para servir como os olhos do público durante a tragédia.

Apesar disso, o diretor incluiu diversas figuras históricas reais para ancorar a narrativa. A socialite “Molly” Brown, por exemplo, foi inspirada em Margaret Brown, uma passageira real que sobreviveu e ficou famosa por ajudar outros a embarcarem nos botes salva-vidas.

As Histórias Reais a Bordo

Um dos momentos mais emocionantes do filme retrata um casal de idosos abraçados na cama enquanto a água invade a cabine. Este casal existiu: Isidor e Ida Strauss. Na vida real, ambos tiveram a chance de embarcar em um bote, mas Isidor recusou-se a ir antes que todas as mulheres e crianças fossem salvas. Ida, por sua vez, recusou-se a deixar o marido. Testemunhas relataram tê-los visto pela última vez de braços dados no convés do navio, uma história real tão poderosa quanto a ficção de Cameron.

A Precisão do Naufrágio e Seus Mitos

Quanto ao acidente em si, o filme é bastante preciso. O RMS Titanic colidiu com um iceberg, tal como retratado. O navio também se partiu em dois pedaços perto de sua terceira chaminé. O carro Renault Type CB Coupe de Ville, cenário da famosa cena de amor entre Jack e Rose, estava de fato listado no manifesto de carga do navio.

Os músicos, liderados pelo violinista Wallace Hartley, que continuaram tocando para acalmar os passageiros, também são uma realidade trágica. Nenhum deles sobreviveu. A única licença poética talvez seja a música final: Cameron escolheu “Nearer, My God, to Thee” (Mais Perto, Meu Deus, de Ti) para o momento, mas não há provas concretas de qual foi a última canção tocada pela banda.

Do Drama Histórico ao Terror B

Se “Titanic” dominou os anos 90 com seu desastre histórico, outro filme da mesma época usou o oceano para um tipo diferente de espetáculo: “Do Fundo do Mar” (Deep Blue Sea), de 1999.

Dirigido por Renny Harlin, o filme é um clássico “B” que, embora lembre “Tubarão” (Jaws), tem sua própria identidade. A premissa flerta com o absurdo: cientistas que buscam a cura para o Alzheimer acabam criando tubarões superinteligentes. Essas criaturas, capazes de memorizar a planta da instalação subaquática e criar armadilhas, começam a caçar os humanos. O resultado é um suspense satírico que entrega exatamente o que promete: ação e diversão.

O Desinteresse de Harlin nas Sequências

“Do Fundo do Mar” gerou duas sequências lançadas diretamente em vídeo, mas Harlin não teve qualquer envolvimento com elas. Em entrevista à edição de outubro de 2025 da SFX Magazine, o diretor demonstrou pouco interesse nessas continuações. Isso é compreensível, visto que seu filme original, apesar de ser considerado “brega” por alguns, possui uma direção técnica e um tom que as sequências não conseguiram replicar.

O Novo Desastre Aéreo-Marítimo de Harlin

Embora tenha deixado “Do Fundo do Mar” para trás, Harlin está entusiasmado com seu próximo projeto marítimo: “Deep Water” (sem relação com o filme homônimo estrelado por Ben Affleck).

A trama de “Deep Water” acompanha um grupo de passageiros cujo avião, voando de Los Angeles para Xangai, é forçado a fazer um pouso de emergência em águas infestadas de tubarões. O desastre inicial é apenas o começo, pois os sobreviventes precisam encontrar uma forma de escapar antes de serem devorados pelas criaturas atraídas pelos destroços.

Uma Homenagem aos Clássicos de Desastre

Na mesma entrevista, Harlin comparou seu novo trabalho aos grandes filmes de desastre dos anos 1970, como “O Destino do Poseidon” ou “Terremoto”.

“É um filme épico, grandioso”, afirmou Harlin. “É como o meu ‘O Destino do Poseidon’, mas com um avião no oceano. Os sobreviventes acham que tiveram sorte, até perceberem que estão cercados por tubarões. Então, torna-se algo parecido com a história do USS Indianapolis em ‘Tubarão’. É uma tela grande, com um grande elenco de personagens, e é muito emocional… Honestamente, acho que é um filme muito bom. Estou tremendamente animado.”